ENTREVISTA: JULIANA

O magiadofutsal foi ter com Juliana. Estudante de profissão joga futsal no GCR Ossela da AF Aveiro mas já passou por outras associações como a do Porto ou de Braga onde se tornou recentemente campeã nacional. Fique com a entrevista a esta craque do futsal no feminino!

Quem é Juliana?

R: Juliana é uma menina de 25 anos, natural de Penafiel, que estuda Ciências Farmacêuticas na Universidade Fernando Pessoa, e que entre outras coisas adora jogar futsal, inclusive detentora do título de Campeã Nacional de Futsal Feminino, pela equipa do F.C.Vermoim, e que atualmente joga no G.C.R.Ossela na A.F.Aveiro.

Como é que o futsal entrou na tua vida?

R: Sempre fui muito interessada pelo desporto no geral, desde sempre. Quando frequentava o ensino básico integrei equipas de desporto escolar em varias modalidades, como por exemplo o basket, que sempre me fascinou. Mas tive sempre aquele “bichinho” da bola nos pés, no entanto como na minha zona não existia nenhuma equipa feminina de futebol só aos 17 anos, através de uma amiga minha tive a oportunidade de integrar uma equipa, chamada Aliados de Lordelo, onde joguei durante 5 anos.
      

Juliana no Aliados de Lordelo da AF Porto, equipa agora extinta.

Qual foi o teu percurso até ao momento?

R: Como já referi iniciei a minha carreira no futsal aos 17 anos no Aliados de Lordelo até á época de 2008/2009. Aí a melhor classificação que obtive foi o 2º lugar, no entanto éramos sempre uma equipa que lutava pelo título. Também chegamos a vencer uma prova extra da A.F.Porto. Fui dois anos chamada a representar a selecção da A.F.Porto onde fui vice campeã e campeã. Depois de terminado o meu percurso no Lordelo optei por mudar de associação e aceitei a proposta do F.C.Vermoim, onde fui campeã distrinal, vencemos a taça da A.F.Braga e fui também vice campeã nacional no primeiro ano em que lá joguei, e no segundo voltei a ser campeã distrital, a vencer a taça e fui campeã nacional. Neste momento, como também já referi, represento o G.C.R.Ossela na A.F.Aveiro.

 Estas no GCR Ossela, como é representar esse clube?

R: O convite para representar este clube surgiu de forma algo inesperada, e confesso que nunca pensei em vir a jogar na A.F.Aveiro devido principalmente á distancia entre Penafiel e qualquer um dos clubes de Aveiro. No entanto nunca fechei a porta a qualquer hipótese pois na minha opinião, quando realmente se quer algo as condições são criadas para que isso aconteça. Acabei por aceitar o convite e logo no primeiro contacto que tive com a equipa tive a certeza que tinha tomado a decisão certa para mim. O G.C.R.Ossela é mais que um clube. As pessoas que constituem este clube estão juntas a trabalhar neste projecto há muitos anos, e lutam diariamente para que cada vez melhores condições sejam criadas para proporcionarem o melhor aos seus atletas e a quem quer que seja que queira abraçar este projecto. É uma equipa jovem mas com muito talento. Estamos passo a passo a percorrer o caminho rumo aos objetivos aos quais nos propusemos, obter o título distrital e vencermos a Taça e Supertaça da A.F.Aveiro. Neste momento encontramo-nos em 1º lugar na tabela classificativa e é com muito orgulho que sinto que diariamente dou o meu contributo para que isto seja possível. Está a ser uma experiência gratificante para mim. Óbviamente tudo requer luta, muito esforço, suor e sacrifício mas eu acredito na minha equipa e acredito que com união chegaremos onde pretendemos.

Juliana no seu novo projeto GCR Ossela da AF Aveiro.

Quantas vezes treinas por semana?

R: No primeiro mês de trabalhos, na preparação para o campeonato treinava 3 vezes por semana, actualmente treino 2 vezes por semana. Mas sempre que posso vou dar uma corridinha ou fazer um ginásio para melhorar a minha condição física.

Achas que o tempo de treino é o desejado ou achas que essa é uma lacuna no futsal em Portugal?

R: Sem dúvida que é uma lacuna no futsal em Portugal. O ideal no meu ponto de vista seria no mínimo 3 treinos práticos e 1 teórico, pois o diálogo por vezes é fundamental, e ouvir o que o treinador pretende de nós dentro da quadra é muito importante para depois sabermos concretizar. Mas tenho noção que na maior parte dos casos isto não é possível.


Ès das pouco atletas em Portugal que já jogou em diferentes associações, como a do Porto, a de Braga e neste momento em Aveiro com o Ossela... será que nos podes dizer quais as diferenças entre o nível de futsal, se é que existe?

R: Sim é verdade, já tive oportunidade de jogar nestas 3 associações e desde já posso dizer que existem muitos mitos relativamente a isto. A associação conhecida por ser a mais competitiva é a do Porto, e confesso que na altura em que eu lá joguei era efectivamente a mais competitiva. Existiam pelo menos 4 equipas a disputarem o título, Mindelo, Gondomar, Restauradores e a equipa onde eu jogava, os Aliados de Lordelo. Mas neste momento penso que a realidade mudou um pouco, umas equipas reforçaram-se e outras “ficaram para trás”. Aliás basta olhar para as tabelas classificativas destes últimos 2 a 3 anos. Relativamente á associação de Braga, existe aquele mito de que é uma associação fraca e pouco competitiva.

Na verdade muitos são aqueles que o dizem baseados nas goleadas que vêm o Vermoim e o Rede Jovem (antigo Maria da Fonte ou Gualtar) a darem, mas na verdade quando defrontam algumas dessas equipas goleadas apercebem-se que não são equipas fracas como se pensa, de facto isto só prova a superioridade destas duas equipas. Finalmente a realidade que vivo neste momento na A.F.Aveiro sem dúvida foi a que mais me surpreendeu, o campeonato é competitivo, como transparece a tabela classificativa, existem pelo menos 4 equipas a lutarem pelo título e não muito distanciadas a nível de pontos. Todas estas experiências ensinaram-me que não devemos criar ideias sobre os campeonatos sem de facto passarmos por eles. As principais diferenças são de facto a nível competitivo e a nível de arbitragem, denota-se uma grande diferença entre as equipas de arbitragem das diferentes associações. Para além, como é obvio, de pormenores como o tempo de jogo por exemplo, e neste caso o campeonato de Aveiro é o mais correto uma vez que são jogados 20 min cornometrados em cada parte, enquanto que em Braga são 30 minutos seguidos e no Porto 25 minutos.

O ano passado foste campeã nacional pelo Fc Vermoim e depois decidiste apostar noutra equipa o GDC Ossela. Será que nos podes confidenciar o porquê dessa mudança?

R: Essa é talvez uma das perguntas que mais me fazem, e talvez até suscite alguma polémica, uma vez que mesmo sem saberem as reais razões desta minha opção muitos são aqueles que gostam de opinar sobre o assunto mas lido bem com isso. E cá estou eu na primeira pessoa para esclarecer essa minha opção. De facto não deve ser fácil para quem esta de fora perceber o porquê de uma atleta alcançar um título nacional e decidir mudar assim de equipa e de distrito, compreendo isso. Mas o que aconteceu foi simplesmente que senti que o meu trabalho no F.C.Vermoim estava concluído, alcancei o título máximo a nível do futsal feminino distrital, o título nacional, tive oportunidade de trabalhar com atletas de excelente qualidade, do melhor a nível nacional, mas algo me dizia que aquele era um capítulo terminado na minha vida e que tinha de seguir outro caminho.

Juliana no Fc Vermoim campeão nacional 2010/2011

Adorei representar o F.C.Vermoim e estou grata por tudo o que me proporcionaram enquanto atleta e enquanto pessoa, tirei muitas aprendizagens ao longo daquelas 2 épocas com aquele emblema ao peito, mas cheguei ao final de uma jornada e estava disposta e seguir em frente. Tive vários convites de vários clubes e associações, inclusive do clube que actualmente represento, o Ossela. Ponderei bem todos os convites e cheguei a conclusão que o melhor para mim seria o Ossela por vários motivos. É uma equipa jovem, em progressão, com atletas muito jovens mas talentosas, e eu concluí que ajudar as mais jovens seria mais uma forma de eu evoluir também, para além do mais é um clube que oferece excelente condições, têm pavilhão próprio com boas infraestruturas e dão ajudas de custos ás atletas, assumindo todas as despesas, algo que sabemos ser raro no nosso país. Fiz um torneio com este equipa, a integração foi excelente, fui muito nem recebida, e estou bem.

Quais os teus objetivos individuais e coletivos neste novo projeto?

R: A nível individual julgo que uma verdadeira atleta nunca acha que tem tudo, há sempre algo mais a trabalhar, há sempre margem de evolução, e trabalhar com atletas jovens, poder partilhar a minha experiência com elas, fazê-las ganhar com isso é ganhar também, é gratificante. A nível coletivo um passo de cada vez. Primeiramente tudo o que diz respeito ás competiçoes distritais, taça de aveiro, supertaça e título distrital para posteriormente disputar o campeonato nacional. No entanto tenho bem noção das dificuldades que vamos encontrar e por isso temos os pés bem assentes no chão.

Quais os teus sonhos para a tua carreira de futsal? Tens algum?
R: Penso que sonhos todos temos. Gostaria imenso de ver o futsal feminino em portugal ser mais reconhecido, tal como é em espanha. Haver um campeonato nacional seria óptimo, igualarmo-nos ao masculino, mas sem ajudas de custos muitas seriam as equipas que não conseguiriam suportar os gastos. No entanto gostaria de ver o futsal feminino chegar a esse patamar!

O Ossela estava bem encaminhado para o titulo e de repente cedeu dois empates que podem comprometer a conquista do titulo. Achas que isso mostra o aumento de competição entre as equipas em Aveiro?

R: Todas as equipas atravessam fases boas e menos boas, fases em que temos todas as atletas disponíveis e a trabalharem em pleno e outras em que estamos privados de algumas atletas, seja por lesoes ou outros motivos, e o Ossela tem sido fustigado de privações de atletas por lesão. De qualquer das formas existe um aumento de competitividade entre equipas de Aveiro sim, como já havia dito anteriormente. E a prova disso é que existem pelo menos 4 equipas a disputarem o título, nós, Novasemente, Vilamaiorense e Azagães, já para não falar do Saavedra Guedes e do Lourosa que são equipas muito complicadas.

Recentemente a FPF alterou a competição designada por taça nacional? Já conheces o formato? Que te parece?

R: Sim já tive conhecimento das alterações que foram feitas. Desde já devo dizer que acho bom terem sido tomadas medidas pela FPF para que algo seja alterado a nível do futsal feminino, pois, como todos sabemos a FPF alterou recentemente a sua constituição com as novas eleições, e portanto é bom verificarmos que já começam a fazer algo pelo futsal feminino. Quanto ás alterações penso que só teremos a certeza das vantagens e desvantagens destas aquando do Campeonato Nacional. A minha primeira observação vai para o facto destas alterações levarem a que as equipas das ilhas não possam provavelmente disputar a Taça Nacional uma vez que os gastos seriam brutais. E para além disso penso também que as equipas acabarão por terem mais gastos devido principalmente ás deslocações. Penso também que o nível de competitividade vai aumentar, principalmente na primeira fase.


Achas que esta medida vai favorecer a evolução do futsal no feminino em Portugal?
R: Em termos de competitividade sim, mas em termos de custos penso que não.

Terias alguma sugestão a fazer à FPF para uma maior divulgação da modalidade no feminino?
R: Penso que a FPF poderia “aproveitar” o momento em que todos os clubes inscrevem suas equipas para divulgar o futsal feminino e quem sabe dar algum incentivo para que os clubes que não têm equipas femininas, as criem. Desta forma poderiam ser descobertos novos talentos e quem sabe aumentar os índices de competitividade a nível distrital. Poderiam também promover a transmissão televisiva de alguns jogos, pelo menos do Campeonato Nacional, o que daria certamente mais visibilidade á modalidade. É de lamentar que a nossa seleção feminina de futsal já tenha disputado dois campeonatos mundiais e nenhum jogo tenha sido transmitido na televisão.

                               
E para terminar, alguma palavra para quem te segue e admira?

R: Nunca desistam dos vossos sonhos e ambições, mas também não deixem que estes se apoderem de vós. Tracem objectivos e dêem o vosso melhor para os alcançarem. Nunca queiram subir dois degraus de uma vez, pois a subida do próximo degrau depende sempre da subida do último. Não desanimem ao primeiro obstáculo, se têm valor agarrem-se a ele e trabalhem para que alguém vos valorize. Em cada treino, em cada jogo, façam valer cada gota de suor, cada grito, cada sprint, cada remate, cada finta, e dêem o tudo por tudo. E lembrem-se sempre e acima de tudo que o futsal é um desporto colectivo, de ajuda mútua, de cooperação e nada disto é possível sem que haja união. Só assim se conseguem vitórias, só assim se alcançam títulos. E mesmo que não os alcancem nunca desistam de lutar pois dentro de campo são 5 contra 5 e todas somos humanas, portanto tudo é possível!


Alguma sugestão para o magiadofutsal?

R: No meu ver o magiadofutsal esta a fazer um excelente trabalho porque de uma forma ou de outra divulga muito bem o futsal feminino.

Agradeço o convite para esta entrevista e estou disponível para ajudar no que for necessário. Tudo pelo bem da modalidade no nosso país!