Vera Pauw é uma das pioneiras do futebol feminino, mas é também uma otimista, que acredita em sonhos, inclusive no de que a modalidade se pode tornar um desporto de massas em Portugal.O nome estava impresso no programa do Seminário internacional «O Jogo das Raparigas», mas a sala pouco composta não denunciava a sua presença. Só uma exuberante inscrição “Rusia” no equipamento levantava a ponta do véu do impressionante currículo de Vera Pauw. É preciso suster o fôlego para enunciar todas as alíneas do “palmarés” da antiga internacional holandesa de futebol, admirável pela sua extensão e projeção: primeira mulher a jogar no estrangeiro, primeira a conseguir o diploma de treinadora profissional, primeira a integrar o Comité Técnico da FIFA (juntamente com Sylvie Beliveau).
Pioneira no seu país e no seu tempo, Vera Pauw, nascida a 18 e janeiro de 1963, em Amsterdão, jogadora com 87 internacionalizações, responsável pela fundação da primeira liga holandesa para mulheres e atualmente diretora técnica da Federação Russa de Futebol, não tem dúvidas de que também Portugal pode conseguir um feito único, como a sua Holanda em 2008.
«Desde que cheguei, só ouvi dizer ‘perdemos o barco’. Não, não perderam. Têm todas as hipóteses de tornar o futebol feminino um desporto de massas em Portugal», assegurou no seminário que hoje se realiza no Porto.Para a mulher que conseguiu levar pela primeira vez a seleção holandesa à fase final de um campeonato da Europa de futebol feminino, disputado na Finlândia, em 2009, basta acreditar nesse sonho. Ou melhor, basta acreditar no sonho, estruturando-o.
A base, segundo Pauw, é esclarecer, desde o início, que o futebol é para todos: «Quando chamamos futebol feminino já estamos a fazer uma diferenciação. Futebol é futebol, quer seja jogado por mulheres ou por homens».
Esclarecimento feito, a holandesa, que destacou que num país em que o futebol é o primeiro desporto é ainda mais difícil o crescimento da vertente feminina ( «veja-se os Estados Unidos. Lá há nove milhões de praticantes femininas, porque o futebol masculino não tem muita projeção»), defendeu que o ponto de partida terá de ser a captação de mais atletas.
Depois, «é preciso haver ideias». «Temos de saber o que queremos, para onde vamos, quem são os rostos», acrescentou, indicando que deverá haver uma única pessoa, carismática e disposta a sacrificar-se, para ser a cara do projeto.
«Um selecionador deve ser mais do que um treinador. Deve dedicar o seu tempo à formação. Não pode haver separação entre o topo e os níveis inferiores», aconselhou, ao mesmo tempo que apontava que o segredo do sucesso é a entreajuda entre todos.
O processo de dinamização do futebol feminino divide-se, assim, de acordo com Pauw, em quatro fases: o surgimento de ideias, a análise da realidade nacional, a definição de objetivos e a identificação de mecanismos corretos, porque «não se pode copiar o modelo de outros países».
Rendida aos conhecimentos da diretora técnica da Rússia, a plateia fechou a sessão com a questão: «O que é preciso para a contratarmos?».
in sapo
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